segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Obscure - Prologue

Alabama, Estados Unidos
7 de Março de 1993
Amy brincava tranquilamente no carpete da sala de estar com suas bonecas Barbie enquanto seu pai, Alfred, cozinhava o almoço. Ele iria fazer uma lasanha, mas não a comum, era uma “lasanha especial”, a que só sua mãe sabia fazer — quando estava viva —, mas ele prometeu a pequena Amélia que iria tentar.
A pequena sentiu seu estômago roncar, fazendo um barulho relativamente alto. Largou suas bonecas no chão e foi até a cozinha, perguntar quando a comida iria ficar pronta. Assim que chegou à cozinha, viu seu pai de costas, falando ao telefone. Escorou-se na parede, esperando ele desligar o aparelho, mas, em consequência disso, pode ouvir alguns trechos da conversa.

 
“Eu não vou conseguir tudo isso até segunda, eu preciso de mais algum tempo” seu pai colocou as mãos no rosto, parecia estar muito nervoso.
Pode ser o chefe dele, pensou, com sua ingenuidade de uma criança de seis anos, apenas cobrando um trabalho atrasado, sorriu satisfeita com a sua interpretação.
“Você sabe que eu nunca faria isso” elevou o tom de voz “ela é a minha filha, a única pessoa que eu tenho no mundo, por favor, me dê apenas mais dois dias” suplicou. Amy franziu a testa, achou realmente muito esquisito seu pai colocar seu nome no meio dos seus assuntos de trabalho. Sem querer, acabou fazendo um barulho, acidentalmente chamando a atenção de seu pai, que congelou assim que a viu.
“Eu preciso desligar” disse apressado, e desligou o telefone, em seguida correu até sua filha e agachou, ficando da sua altura.
— Papai, o que o seu chefe quer comigo? — perguntou inocente. O pai suspirou, dando um sorriso logo em seguida.
— Eles apenas queriam te dar parabéns, afinal, seu aniversário é daqui à 3 dias, não é? — disse, abraçando-a.

10 de Março de 1993
Finalmente, havia chegado o tão esperado dia. O aniversário de 7 anos de Amélia Clarke.
Como a ocasião era especial, exigia muitos preparativos, como os enfeites para festa — sem esquecer o gigante bolo de chocolate — e um vestido e sapatos novos. Afinal, não é todo o dia que se faz 7 anos. E como esse era o número preferido de Amy, é com certeza uma grande sorte, o que torna ainda mais especial.
(...)
A festa já havia começado, e estava perfeita: tios, tias, primos, avós, todos estavam lá, rindo e conversando, enquanto beliscavam alguns salgados. Crianças corriam por toda a parte, brincando de qualquer coisa que aparecesse. Seu pai estava conversando com alguns adultos, e com um sorriso estampado no rosto.
Enfim havia chegado a hora dos parabéns. Colocaram o bolo de chocolate — muito suculento, por sinal — em cima da mesa principal, cercado por alguns docinhos, também deliciosos. Amy subiu no banquinho, para alcançar o topo da mesa, apagaram as luzes e acenderam as velas.
— Parabéns pra você, nesta data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida... — a porta de abriu em um estrondo. O sorriso de seu pai sumiu imediatamente e todos ficaram tensos quando três homens de aparência medonha entraram em sua casa. Sem se importarem de interromper um momento tão especial — o que a menina achou uma tamanha falta de educação — caminharam tranquilamente até a cozinha, como se a casa fosse deles.
Os dois homens, do lado, usavam ternos e calças sociais pretas, e sapatos bem polidos. Já o do meio — e o mais assustador, sem dúvidas — usava um casaco amarelo escuro, como os dos detetives de filme policial, usava um chapéu nada amistoso e fumava um charuto. Seu cheiro ruim se alastrou pela casa toda, o que fez Amy tampar seu nariz. Mas mais ninguém pareceu se importar, exceto seu pai, que foi correndo atrás deles, e então Amy percebeu que havia algo errado. Mesmo assim, a festa continuou, como se nada tivesse acontecido.
Os três caras medonhos continuavam dentro da casa, vasculhando os cômodos e observando as pessoas ali presentes — especialmente Amy, que se sentiu muito incomodada — mas, novamente, ninguém pareceu notar. Ou pelo menos não queriam notar. Elas também devem estar com medo, pensou a menina.
(...)
A festa já havia acabado, faltavam menos de 5 pessoas para irem embora, e os olhos de Amy já estavam pesando. Colocou seu pijama e escovou seus dentes. Como não havia encontrado o pai — que provavelmente foi se despedir dos convidados no portão — foi logo dormir, arrastando seu urso junto.
Bang.
Um estrondo preencheu toda a casa, fazendo Amy acordar em um pulo. O barulho foi tão alto que deve ter acordado até os vizinhos. Deve ter vindo da cozinha, algum objeto deve ter caído, ou coisa do tipo.
A menina olhou no relógio, e constatou que eram exatas seis horas da manhã de segunda feira. E que havia fumaça e uma claridade imensa vazando da fresta da porta de seu quarto. Só depois, em um momento de concentração, Amy pôde ouvir o barulho de o fogo crepitar. Correu até sua porta e a abriu, com cuidado. O que a garota viu fez lágrimas brotarem de seus olhos no mesmo instante, tanto de tristeza como de irritação nos olhos, devido à fumaça. Isso não pode ser verdade.
Correu até sua cama novamente, tossindo devido à inalação de fumaça, que se alastrava aos poucos por seu quarto, e pegou um cobertor grosso, enrolando-o por todo o seu corpo. Sem pensar duas vezes, saiu correndo, pisando apenas nas frestas do que sobrou do assoalho, em meio às chamas bem mais altas que ela. Conseguiu chegar até a sala, onde seu pai estava sentado no sofá, um dos últimos móveis que ainda não havia queimado. Estava com a aparência cansada e fraca, e estava respirando com dificuldade e a boca estava coberta por um pano, como se ele realmente quisesse morrer.
— Papai! — a garota gritou, com todas as suas forças. Tossia repetidas vezes, e já estava ficando tonta, como se fosse desmaiar a qualquer momento. A menina correu até seu pai e tocou em seu rosto pálido — Papai, quem fez isso — perguntou, com a voz trêmula, estava chorando.
— Isso não importa Amy — o pai disse, com um fio de voz, abraçando a garota, que sentiu, mesmo que por segundos, que estava segura — você vai ficar bem, ok?
Assentiu, enxugando uma lágrima que insistiu em rolar por sua bochecha, suja pela fuligem. Mas já era tarde demais, a fumaça já havia se alastrado por quase todo o pequeno pulmão da garota, e então...
Continua...



Nenhum comentário:

Postar um comentário