segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Obscure - Chapter one

Também não posso entrar lá

Junho de 1994
Amélia estava deitada na parte do beliche de cima, um pé para fora da cama estava balançando repetidamente. Havia sido expulsa da mesa do almoço por ter arrumado uma briga com outra menina.
Mas, o que aconteceu com a Amélia de antes? Eu acho que você deve estar se perguntando isso, certo? Bom, basicamente, ela não existe mais. Depois do incidente de “10 de Março”, — como o caso ficou conhecido — Amy nunca mais foi a mesma. Durante pouco mais de 1 ano vivendo em um Lar, a menina perguntava todos os dias sobre seu pai, e era sempre a mesma resposta.

 
“Ele foi viajar a trabalho, minha querida. Agora volte a fazer seu dever de casa“
Aos poucos, foi descobrindo a verdade. Seu pai havia morrido, afinal, só vive em Lar quem tem os pais mortos, não é?
A cada dia, Amy ficava cada vez mais fria e insensível, já não gostava tanto assim de estudar e os aniversários já não tinham mais graça. Ninguém em especial estava lá, e era difícil aceitar que isso não iria voltar nunca mais. Já estava se preparando para ficar mais um ano sozinha nesse orfanato, que não é um dos melhores.
O sinal indicando a hora do almoço tocou, e em seguida mais 7 meninas entraram no quarto. Sim, Amélia dividia o quarto com mais 7 pessoas, se não bastasse...
As meninas estavam desenhando e nem perceberam que Evelyn — a funcionária do Lar — havia entrado no quarto.
 — Amélia Clarke? — perguntou pela segunda vez. Em uma fração de segundo a menina já estava com os olhos vidrados na moça, esperando alguma resposta – Você tem visitas. Vamos — fez um gesto para que a menina descesse do beliche. Sem hesitar, ela correu até Evelyn, os olhos brilhantes de felicidade. Quem quer que seja finalmente lembrou-se da pobre menina abandonada, finalmente.
Assim que chegaram à recepção, Amy sentiu uma forte vontade de correr de volta para o quarto e ficar trancada lá para sempre — ou pelo menos até ele ir embora, mas hesitou em fazer isso. Engoliu em seco, mesmo depois de 1 ano, ele ainda continuava com a mesma aparência aterrorizante.
Era o mesmo cara que havia interrompido sua festa. Estava com um sorriso no rosto, nem um pouco acolhedor.
— Amélia! — exclamou, com sua voz rouca e grossa. Foi até a menina e mexeu em seus cabelos cumpridos e negros. Ela não conseguiu soltar uma palavra sequer — Quanto tempo...
— E então, Sr. Lucca? — Evelyn perguntou. O tal “Lucca” se dirigiu a ela e, sem mais cerimônias, disse.
— Traga-me os papéis, eu vou ficar com ela.
Essas palavras foram como um tiro para Amy. Mesmo que ele fosse a pessoa mais bondosa do universo, ou a última pessoa no mundo, ela nunca iria escolher morar com ele. Ela só queria voltar pra casa, com sua mãe e seu pai, como tinha que ser. Mas os adultos nunca a ouvem.
Uma lágrima escorreu de seu olho quando Lucca terminou de assinar o tal “contrato”, que dava a guarda da pobre Amélia para esse homem estranho. Ele agachou, ficando da altura da menina, e limpou suas lágrimas. Suas mãos eram ásperas. Amy podia ver em seus olhos algo estranho. Não havia brilho algum.
— Vai ficar tudo bem. — sorriu — Você vai gostar da sua futura casa, e nós vamos nos divertir bastante.
Sua voz grossa provavelmente pode fazer qualquer pessoa estremecer ou ter calafrios, uma vez que é ouvida bem de perto. Ele deve colocar medo em muitas pessoas, só com a voz. Imagine!
(...)
A mala da menina já estava pronta. O homem pegou-a com uma mão, e com a outra pegou a mão de Amy, e os dois se dirigiram até um carro preto reluzente e parecia ser bem chique e com um motorista no banco do motorista, como nos filmes. É, pelo visto Lucca parece ser bem rico.
Em poucos minutos eles haviam chegado ao aeroporto. O carro ficou nas mãos do motorista, que já sabia o que fazer. O homem mostrou alguma coisa para uma funcionária, que assentiu, relutante, e liberou a passagem para algum tipo de avião especial, na primeira classe, ou um jatinho particular. Em poucas horas, eles haviam chegado à seu destino final. Pegaram um táxi até a nova casa de Amy. Entraram pela porta dos fundos, que dava para a cozinha, onde uma mulher com longos cabelos ruivos e olhos verdes estava sentada á mesa, lendo um livro
— Rosa! — Lucca exclamou, entusiasmado. A mulher (Amy presumiu que fosse a tal Rosa) olhou rapidamente, sorrindo assim que pôs os olhos na criança – Olhe quem eu trouxe!
— Meu Deus, como cresceu! Que bambina mais linda! — Rosa disse, batendo palmas. Amy foi capaz de sorrir fraco.  
A moça a mostrou seu quarto – que era lindo, por sinal. O sonho de toda a menina – e os outros cômodos da casa. E também lhe mostrou as regras da casa, que consistia em apenas uma: nunca entrar no porão, sem nenhuma exceção.
Rosa proferiu a frase em uma voz tão grossa assustadora que Amy chegou a pensar que havia um cadáver guardado no porão. Mas resolveu assentir, afinal, não quer levar bronca logo no primeiro dia na casa nova.
Algumas horas mais tarde, a campainha tocou. Rosa foi atender rapidamente. Eram os mesmos dois homens que estavam com ele em “10 de Março”, e mais três outros rostos desconhecidos. Lucca, que estava lendo seu jornal na mesa da cozinha, se dirigiu até os homens e todos foram até o porão e trancaram sua entrada. Puderam-se ouvir alguns barulhos, como se alguém estivesse batendo as mãos na mesa várias vezes seguidas. Eles devem estar em reunião. Isso é normal em uma reunião, não é?
Amy foi até a cozinha, onde Rosa estava preparando o arroz. O cheiro invadiu os pulmões de Amy, a fazendo ficar com água na boca.
— Rosa? — perguntou tímida. A mulher se virou em um pulo. Parecia estar muito nervosa.
— S-sim querida?
— O que eles estão fazendo lá no porão? — perguntou inocente. A mulher congelou, procurando alguma resposta em sua mente.
— Eles estão em reunião, nada demais, são apenas negócios. Apenas siga as regras e volte a brincar, o jantar já vai ficar pronto.
— Mas o que tem lá no porão de tão importante?
A moça engoliu em seco.
— Eu não sei. Também não posso entrar lá.

♡ ♡ 

Notas da Autora: Como postar os capítulos em dias diferentes iria causar um desequilíbrio nos dois sites, vou adiantar logo aqui e postar todos os capítulos que já tenho prontos :3 


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