segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Obscure - Chapter four

"Pensão Saint Lucy"

Novembro de 2004
Havia se passado mais um mês – aterrorizante, por sinal. Amy havia sofrido ainda mais – não fisicamente, mas psicologicamente. Todo o dia, ela ouvia mais e mais barulhos vindos do porão e não podia fazer coisa alguma, absolutamente nada. Aquilo era agonizante.

 
Dois dias antes Amy havia assistido ao noticiário – o que é uma coisa muito rara, já que mal assiste à televisão – e descobriram mais um assassinato. Era Maura Johnson, de 25 anos. Encontrada gravemente mutilada em um rio a 5 km da mansão em que morava. Fora reconhecida pela arcada dentária. Era a mesma mulher que ela havia encontrado presa no porão.
A menina não estava aguentando mais morar em um lugar tão sujo. Era horrendo pensar que estava dormindo no mesmo lugar em que pessoas eram assassinadas. Era horrendo ver a cara do assassino todo o dia de manhã, e não poder falar nada. E Amy já havia cansado disso, era hora de fazer alguma coisa.
Terça feira de manhã. Hora da faculdade. Amélia colocou uma roupa qualquer que estava misturada em suas cobertas e desceu para cozinha pegando uma barra de cereal e ignorando todos à sua volta. Segundo Lucca, hoje a ‘reunião’ iria ser longa, e seus comparsas iria tomar café da manhã, na mesa, junto com eles. Não sei como Rosa consegue conviver com tudo isso, pensou, e em seguida olhou para a mulher, que estava cabisbaixa sentada ao lado do ‘marido’, relutante.
Sem mais delongas, ela fez seu habitual caminho até o campus.
Estacionou seu carro em sua vaga de sempre, perto de alguns conversíveis e caminhonetes, e em meio a pessoas conversando, andando, enfim...
Parou em frente às escadas que davam ao portão principal, e em seguida o sinal tocou, fazendo todos os que estavam ali presentes correrem para dentro, menos ela. Avaliou suas opções: entrar, ou ir embora.
- Foda-se – murmurou e voltou ao seu carro, saindo às pressas do lugar e dirigindo para qualquer lugar da cidade até dar a hora de sair da faculdade, para que eles não desconfiassem, e enquanto isso acabou pensando em um plano. Um plano de fugir daquela mansão que tanto a aterrorizava. E, claro, não ia desperdiçar seu primeiro dia livre na faculdade, que, em sua opinião, não era prioridade no momento. Rasgou uma folha de seu caderno e começou a escrever os passos.
Iria acordar de madrugada com suas coisas já devidamente arrumadas, furtar dinheiro e correr para o mais longe e seguro possível.
(...)
Dito e feito, Amy acordou silenciosamente às duas horas da manhã, sua mala – como tinha poucas roupas e coisas e iria levar apenas o necessário, bastou apenas uma mala pequena, o que iria ajudar bastante – já estava pronta, havia disso arrumada à tarde. Desceu a escada descalça e na ponta dos pés extremamente devagar, para não deixar o assoalho fazer barulho algum. As pessoas nessa casa são muito alerta.
Caminhou do mesmo jeito até a sala de estar, mais precisamente em frente ao único quadro que estava na parede. O retirou do lugar, revelando um cofre. Desde criança, Amy sempre foi uma menina muito observadora, já havia visto várias vezes ‘tio’ Lucca abrindo este cofre, portanto sabia a combinação de cor salteada. Sorriu ao perceber que lá havia uma quantia gorda de dinheiro, mas pegou apenas dois maços. Não iria precisar muito para sustentar apenas uma pessoa. Voltou até seu quarto e colocou um casaco cumprido e sapatos silenciosos.
Guardou o dinheiro em sua mala e novamente desceu dessa vez indo até a garagem, não aguentando de felicidade. Finalmente iria fugir daquela prisão. Deu partida no carro e saiu fazendo o maior barulho possível, para demonstrar sua vitória.
Segundos depois as luzes da casa foram acesas e Lucca desceu correndo de seu quarto, enfurecido. Tinha certeza que o barulho do carro havia vindo da sua garagem. A primeira coisa que verificou foi o cofre. Ele sempre contava seu dinheiro, portanto não demorou a perceber que faltavam dois maços.
- Vadia! – gritou, fechando a pequena porta do cofre com força.
Enquanto isso, em meio ao trânsito nem tão caótico da cidade de Atlanta, Amélia Clarke acendia um cigarro. Havia virado um hábito desde então, aliviava seu nervosismo. Agora era um vício. Deu partida no carro e estacionou em um bar que havia lá perto e entrou, sem hesitar. Lá havia apenas homens, mas ela não se importou com a presença dos mesmos afinal, praticamente passou sua vida inteira com eles, sem muita presença materna.
- Uma cerveja, por favor – pediu ao bartender, dando mais uma tragada em seu cigarro, e soltando toda a sua fumaça em seguida.
Depois de ter bebido mais um copo do líquido gelado voltou a dirigir, com a visão um pouco turva, mas ainda bem para se manter alerta em relação ao trânsito. A polícia de Atlanta era bem desleixada, então não havia problema em dirigir bêbada pela cidade. Ainda tinha que procurar um lugar para dormir, afinal.
Depois de cerca de 5 minutos dirigindo sem rumo algum, enfim havia achado algum lugar decente, que não tivesse aparência de um bordel ou algum albergue abandonado. A casa, que parecia ter dois andares, tinha tons azuis claros e havia um jardim convidativo em frente, salpicado de cores, entre branco, vermelho e lilás. Em frente, podia-se ler claramente:
Pensão Saint Lucy – para rapazes e moças
Sem cerimônia a menina estacionou o carro em uma das ‘milhões’ de vagas vazias naquela rua – que não parecia nada movimentada – e tocou a campainha do lugar, abraçando a si mesma assim que um vento gélido a atingiu. A noite estava fria.
Sem demoras, uma senhora – que aparentava ter seus 50 anos, ou mais – baixa e gordinha atendeu a porta, com um sorriso caloroso no rosto.
- Boa noite – ela disse, com uma voz doce, que seria capaz de hipnotizar.
- Boa noite. Eu gostaria de um quarto.
- Oh, sim. Entre, vamos resolver as coisas no balcão. Eu sou Elizabeth – estendeu a mão. Amy apertou-a, por educação.
- Amélia – respondeu, entrando. A casa era extremamente agradável. A temperatura era um tanto acolhedora e, para Amy, era como se ela estivesse em sua própria casa. Ela seguiu a senhora até um simples balcão, onde havia um computador antigo.
- Pietro! Temos mais uma cliente, desça aqui agora – gritou, e logo puderam ouvir barulho de pés descendo as escadas. Amy se deparou com um homem que aparentava ter seus 20 anos ou mais, cabelos raspados, barba por fazer, expressão séria. Foi até atrás do balcão e digitou alguma coisa no balcão.
- Que tipo de quarto? – perguntou quase em um murmúrio.
- Ah... simples.
- Certo – ele digitou mais alguma coisa – aqui está a chave do seu quarto – ele entregou uma chave à Amy, com um chaveiro onde estava escrito o número ‘115’ – suba as escadas, primeiro corredor à esquerda, última porta.
- Mas e o pagamento?
- Não se preocupe, é apenas amanhã. Bons sonhos – sorriu.




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