segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Obscure - Chapter three


"Minha casa. Minhas regras"
Amélia fechou seus olhos fortemente, devido à luz do sol que escapava da janela bem em seu rosto. Sentou-se na cama e esfregou os olhos, e em seguida sentiu seu estômago roncar alto. Então ela se lembrou de que estava trancada no quarto desde à tarde do dia anterior, depois de ter apanhado. Ela estava com medo. Se havia uma mulher em cativeiro no porão dessa casa, quantas coisas mais ele pode estar escondendo? E, afinal, por que ela estava lá?

 
A menina levantou de sua cama devagar, resmungando da dor que estava sentindo nas costas – havia se atirado muito à parede, e para finalizar, dormiu de muito mau jeito – e foi até seu banheiro, se olhando no espelho e constatando que estava com uma aparência nada agradável. Seus olhos encontravam-se inchados e com grandes bolsas abaixo deles. Sua bochecha ainda estava inchada do lado esquerdo devido ao tapa, e seu lábio estava com um corte feio. Nada que uma maquiagem não resolva, pensou.
Despiu-se rapidamente e entrou debaixo da água quente, sentindo seus músculos tensionados se relaxar por um breve momento. Cantarolou uma música qualquer, e em pouco mais de 10 minutos desligou o chuveiro. Secou-se e enrolou-se em sua toalha vermelha e destrancou a porta. Estava se dirigindo até seu guarda roupas para pegar algumas vestes, mas recuou e escorou-se na parede, a fim de se distanciar o máximo possível de Lucca, que estava sentado em sua cama.
- O que você está fazendo aqui? – tentou falar o mais firme possível, mas sua voz estava trêmula e carregada de medo. O homem apenas a analisou de cima a baixo, como se ela estivesse nua – não estava, mas chegava perto – em seguida umedeceu seus lábios. Amy sentiu um extremo nojo daquilo. Ela tem apenas 18 anos e ele, quanto deve ter? 32?
- Só vim lhe dar um recado – disse calmo.
- Então diga logo.  
- Hoje você vai até a Delegacia, dar um depoimento sobre 10 de Março. Eles descobriram novas pistas e precisam te perguntar algumas coisas.
Amy sentiu-se fraca de repente. Se não bastasse o sofrimento, ainda queriam relembrá-la de seu maior pesadelo, depois de quase 11 anos.
Lucca foi até seu guarda roupa e abriu suas portas, passando seus dedos pelas roupas, até parar em uma específica. Retirou de lá um cabide, onde estava pendurado um vestido azul marinho, sem alças e relativamente rodado. Mesmo em uma superfície quase lisa, já dava para perceber que o vestido abrigava um grande decote.
- Eu não vou usar isso para ir a uma delegacia.
- Ah, você vai – disse sarcástico.
Eu não vou – disse, se espantando com a coragem que havia em sua voz, mas logo em seguida se arrependeu. Lucca ponderou a hipótese de dar mais um tapa naquela menina estúpida, mas infelizmente não podia.
Amy estava de olhos fechados quando ouviu o som de seus sapatos no chão ficarem mais altos a cada passo, e então sua respiração já batia contra seu rosto.
Minha casa. Minhas regras. Você vai fazer o que eu mandar, entendido? – perguntou, em um tom sério e amedrontador – Primeiro. Você não vai contar nada, absolutamente nada sobre o que você viu ou ouviu aqui se não quer tornar a sua vida um inferno. Entendido? – a menina assentiu, sentindo uma lágrima rolar por sua face, e em seguida o polegar áspero de Lucca limpando-a.
- Não chore, Amélia. As coisas vão ser melhor assim – se afastou, girando a maçaneta da porta – ah, e você tem até às nove e meia para se arrumar. Não se atrase – fechou-a, por fim.
Amy recobrou-se e foi até a cama, encarando o vestido provocante que estava sobre ela.“As coisas vão ser melhor assim”, a voz grossa do homem ecoou em sua mente mais uma vez.
Colocou as devidas roupas e um sapato não muito chamativo. Foi ao banheiro novamente e secou seus cabelos, arrumando-os em uma trança. Depois do banho, sua aparência havia ficado bem melhor. Seu rosto havia voltado ao formato comum e o corte na boca era apenas mais uma rachadura. Tentou ignorar suas vestimentas, e preferiu pensar que isso logo iria acabar.
Desceu as escadas devagar e parou no degrau da sala. Rosa estava lendo um livro e Lucca assistindo ao noticiário, cada um em uma ponta do sofá. Amy pegou as chaves do carro e correu até a garagem.
(...)
- Amélia Clarke? – um delegado apareceu na porta da sala de espera. Amy automaticamente fechou a revista e deixou-a em cima do sofá em que estava sentada, arrumando seu vestido e indo ao encontro do homem que, segundo a placa de identificação em seu uniforme, era Harry. Tentou ignorar o fato de que ele estava olhando para seu decote, e arrumou seus cabelos, desconfortável.
Os dois passaram pelos corredores onde ficavam as celas dos presidiários, a caminho da sala do Tenente Malik, e logo assovios foram ouvidos, vindos dos presos. Os comentários que eles dirigiram-na eram extremamente deprimentes, pelo menos para uma pessoa tímida como ela.
Enfim, pararam em frente à uma pequena porta de mogno escura. O Delegado Harry bateu na porta, abrindo-a e indo embora em seguida, a deixando parada em frente à uma mesa do mesmo material, com um computador e alguns papéis.
- Senhorita Clarke? – uma voz rouca perguntou. Amy levantou seu olhar e pôde presenciar um homem moreno, aparentava ter seus 20 anos, barba por fazer e o cabelo arrumado em um topete – Pode entrar.
Fechou a porta que havia atrás dela e sentou-se em uma das poltronas que ficavam em frente à mesa. 
- Então, você poderia me responder algumas perguntas sobre, bom... o assassinato do seu pai?
Amy suspirou. Pelo que tudo indicava/indica, foi assassinato, afinal, ninguém coloca fogo na casa por que quer certo? Mas, quem foi capaz de fazer isso com seu pai, Alfred Clarke, um homem tão bom? Ela pergunta a si mesma todos os dias.
- Claro – deu de ombros.
- Mais alguém estava em sua casa quando o incêndio começou? – perguntou, tirando uma caneta da gaveta, pronta para ser usada.
- Até onde eu saiba... – hesitou ao falar de Lucca e seus comparsas, lembrando-se de sua voz medonha dizendo para não dizer absolutamente nada sobre ele e, aliás, Amy não se lembra de tê-lo visto saído da festa – Estávamos só eu e meu pai. Eu estava dormindo.
- E você sabe, mais ou menos, à que horas aconteceu o ocorrido?
- Creio que por volta das cinco horas da manhã. Foi quando eu acordei, com um barulho muito forte.
- Certo... – ele anotou sua resposta – agora vamos direto ao ponto: os médicos legistas de Alabama encontraram rastros de sangue em meio aos escombros. Esse sangue pode ser tanto da vítima quanto do assassino. Você tem mesmo certeza de que não havia mais ninguém lá?
Amélia sabia que se continuasse mentindo iria atrapalhar muito as investigações, mas se dissesse a verdade iria prejudicar ela mesma, até mesmo sua própria vida.
- Não, como eu disse, estava dormindo. Só me lembro disso.
O Tenente Malik suspirou, exausto. Sabe que Amy está mentindo, tem muita experiência com isso.
- Senhora Clarke, nós sabemos que você está morando junto com o Senhor Cabrini e, vamos dizer que ele tem uma personalidade muito, vamos dizer, manipuladora. Por acaso ele te obrigou a mentir? – perguntou preocupado. Amélia engoliu em seco.
- Não, ele não me obrigou à nada.
- Então o que é esse corte? Na sua boca? Parece ter sido um tapa – encostou na cadeira. Cruzando os braços. Amy, por incrível que pareça, havia esquecido esse detalhe. Encostou os dedos levemente na superfície machucada.
- Foi apenas um mal entendido – mudou de assunto rapidamente – então. Eu me lembro de três homens terem vindo em minha festa, mas não me lembro deles saindo.
- Suspeitos em potencial – murmurou, anotando na folha – pode descrevê-los, por favor?
- Altos – começou a falar, gesticulando –, fortes, morenos, cabelo preto, devem ter uns 40 anos agora.
- Roupas?
- Ternos pretos, sapatos sociais...
- Certo. Você tinha alguma informação sobre eles?
- Não.
- Obrigada. – disse, estendendo a mão. Amy apertou-a – Faremos o possível para desvendar esse caso.



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