segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Obscure - Chapter two

"As primeiras mentiras"

Atlanta, Geórgia, Estados Unidos
Outubro de 2004
— Bom dia tio Lucca — Amélia exclamou, feliz, enquanto pegava uma maçã na fruteira em cima da mesa. Deu um beijo em Rosa e sentou-se.
— Bom dia Amy — disseram.
Anos haviam se passado. Amélia já estava com 18 anos de idade, e mesmo depois de tantas brigas e desentendimentos com sua família adotiva, conseguiu aceita-los, e os três viveram felizes durante 10 anos. Amy estava terminando seu primeiro ano da faculdade, cursando advocacia. E também, durante esses anos, as reuniões de seu “tio” aconteceram regularmente, mas o porão foi sendo esquecido, fazendo as regras serem seguidas corretamente.

 
A menina pegou sua mochila e as chaves de seu carro, que havia ganhado como presente de aniversário por passar no teste de direção.
Assim que passou pelos corredores da faculdade, todos os alunos olharam para ela e abriram caminho para ela passar. Isso começou desde o segundo dia da faculdade, quando descobriram que ela morava com Lucca Cabrini. Que ela saiba, ele era apenas um empresário, nada que os outros possam se assustar, não é?
Amélia se dirigiu calmamente até sua respectiva sala, ignorando os olhares curiosos e cochichos sobre sua pessoa, e sentou na última cadeira, da última fileira. A última coisa que queria agora era chamar atenção. Até os professores tem medo dela. Isso não pode ser possível.
(...)
Amy voltou um pouco tarde para casa, teve que ficar na biblioteca do prédio, fazendo um trabalho.
— Rosa? — falou alto. Nenhuma resposta. Como Lucca sempre está trabalhando nesse horário presumiu que ela tenha ido ao mercado ou coisa do tipo. Então estava sozinha em casa.
Largou sua bolsa em um canto qualquer da sala e subiu até seu quarto, se jogando na cama e pegando um livro no criado mudo ao lado dela.
Depois de um bom tempo lendo, a menina percebeu barulhos estranhos vindos de algum lugar da casa. Resolveu ignorar, colocando seus fones de ouvido e uma música alta. Deve ser o vento batendo nas persianas. Mas, a cada momento, o barulho só aumentava, e se Amy prestasse bem atenção, dava para ouvir sussurros. Saiu de seu quarto e desceu as escadas com cautela, indo debaixo delas, e encarando a tão temida porta. É de lá que os barulhos estão vindo.
Amy mordeu o lábio, hesitando em entrar ou não entrar. Rosa deixou bem claro que era estritamente proibido entrar no porão, sem nenhuma exceção, mas o barulho já estava ficando chato, e até um pouco assustador, pelo fato de estar sozinha em casa. Aproveitou a situação e puxou a corda, onde outra escada saiu de lá dentro. Subiu com cautela e chegou até um lugar escuro e com cheiro de mofo. Incrivelmente os barulhos cessaram. Depois de momentos, ela finalmente conseguiu achar o interruptor, e o que viu fez praticamente seu coração (dis)parar.

Enquanto isso, do outro lado da cidade...
Niall Horan, médico legista da cidade de Atlanta, dirigia com cautela pelas ruas até a delegacia mais próxima do distrito, onde estava o Tenente Zayn Malik, o maior delegado da cidade, já resolveu mais de 20 crimes, inclusive alguns que já ficaram fechados por anos. E Niall estava com mais um desses.
Apresentou seu distintivo e bateu na porta antes de entrar na sala do Tenente Malik, ofegante. Ele estava escrevendo alguns relatórios, mas parou imediatamente para fitar a interrupção.
— Tenente, Tenente Malik — disse, respirando fundo — eu tenho uma coisa, para mostrar.
— Ora, o que está esperando! — exclamou — me mostre.
— É sobre o caso 10 de Março.
O olhar de Malik congelou.
— Não pode ser, isso... isso aconteceu ha 10 anos, está tudo incinerado! Nós nem descobrimos a vítima, e isso foi em Alabama! — colocou as mãos no rosto.
— O Distrito Policial do Alabama achou, por cima das cinzas do chão da cozinha, uma pegada suja de sangue. Pode ser da vítima, ou do assassino.
O homem ponderou a situação por um instante, antes de assentir.
— Está certo. Temos algum sobrevivente do caso?
— Temos sim. Amélia Clarke, tinha 7 anos quando aconteceu, mas deve se lembrar bem.
— Ok, aonde ela reside?
— Aqui mesmo, em Atlanta. Mora na mansão de Lucca Cabrini.
Malik estreitou os olhos. Tinha uma rifa com esse homem desde os velhos tempos. Ele suspeitava que Lucca fosse um poderoso chefe da máfia, e do tráfico de drogas e armas, mas como não havia pistas, ele não conseguiu provar nada.
— Ok, tragam-na para um depoimento, certo?

×

A mesa, que provavelmente deveria estar no centro, estava no canto do porão, dando lugar a uma cadeira. Há uma mulher sentada nela. Tem os cabelos castanhos presos em uma trança mal feita, seu rosto estava sujo e os olhos bem vermelhos, parecia que estivera chorando bastante, e estava aqui faz tempo. Estava com uma mordaça amarrada a boca, que a impedia de fazer qualquer som alto. Suas pernas estavam amarradas aos pés da cadeira e seus pulsos algemados e sangrando, como se ela estivesse forçando as algemas para poder se soltar. A moça arregalou os olhos assim que viu Amélia, pedindo socorro apenas com seu olhar triste.
Ela não sabia o que fazer, não sabia se soltava a moça ou fugia como se nada tivesse acontecido. Há quanto tempo será que essa mulher está ai “guardada”? Não é possível que tenha sobrevivido durante 10 anos. 
Amy ouviu o barulho da porta fechando e foi obrigada a correr, deixando a pobre mulher histérica. Desceu as escadas como se nada tivesse acontecido, e tentou parecer o mais normal possível, mas logo que pisou no chão, sentiu uma dor extremamente forte do lado esquerdo do rosto, a fazendo cair no chão. Pôde sentir o sangue em sua boca e a ardência em seu rosto. Rosa soltou um grito.
 Eu disse para você nunca entrar no porão! — gritou, extremamente alto e com uma carga quase explosiva de raiva em sua voz. Ele pegou a menina pela gola da blusa, forçando-a a ficar de pé e a prensou na parede, causando um estrondo grande, por tamanha força, o que fez a menina gemer de dor. Rosa se escorou na parede e começou a chorar. Havia se afeiçoado muito à menina, mas agora não podia fazer nada para defendê-la.
Amy podia sentir a respiração acelerada e quente de Lucca batendo contra sua bochecha, e não ousava olhar em seus olhos, que estavam cheios de um ódio que ela nunca vira igual.
— Eu sinceramente não queria fazer isso com você, mas acho que esse é o único jeito de você aprender a seguir as regras da casa — grunhiu e levantou a mão, fechando-a. Amy já estava prevendo um soco realmente muito doloroso. Ela definitivamente não devia ter entrado no porão.
Antes de sua mão descer novamente, bem no rosto de Amélia, a campainha tocou, fazendo os ombros da menina relaxarem de alívio. O homem a soltou, e seu corpo fraco deslizou na parede, até cair sentada no chão, novamente.
— Nós ouvimos uma gritaria estranha da sua casa. Aconteceu alguma coisa? — Beth, a mulher gentil da casa ao lado perguntou apreensiva.
— Não é nada, foi apenas um mal entendido — sorriu — não precisa se preocupar — fechou a porta, sem esperar resposta. Incrível como sua respiração se estabilizou tão rapidamente, e a maldade em seus olhos sumiu, mas mesmo assim conseguiu lançar um último olhar de ódio para a menina, antes de subir para o porão novamente, sem proferir alguma palavra. Ele iria torturar aquela mulher, e essa provavelmente seria a última vez, antes de sua morte.
Rosa, sem mais delongas, correu até a menina e a ajudou a se levantar, levando-a até o banheiro. O tapa havia sido realmente muito forte, e ela havia ficado muito atordoada. A mão áspera e grande do homem havia pegado quase todo o lado esquerdo de seu rosto.
 — Dios mio, o que você foi fazer Amélia — lamentou, limpando o sangue do lábio inferior da menina. 
Continua...













Nenhum comentário:

Postar um comentário