segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Obscure - Chapter six

"Vingança"

Depois de uma manhã exaustiva na faculdade, Amy voltou para casa às seis e meia da tarde. Não havia nenhum policial por perto, e a pensão não havia sido fechada. Ótimo.
Assim que abriu a porta de entrada estranhou, pois não havia ninguém na mesa nem na cozinha, sendo que esse é o horário que, geralmente, eles se sentam para fazer um lanche. 

 
Subiu até o segundo andar e tomou um banho, aproveitando que a casa aparentava-se vazia. Colocou uma roupa qualquer e pegou sua chave para abrir a porta, mas ela já estava aberta. Deve ter sido Elizabeth, pensou. Assim que entrou no quarto, trancou a porta e assim que se virou, levou um susto ao perceber que o mesmo homem de olhos verdes que tinha visto de manhã estava sentado à beira de sua cama. Por pouco não gritou apenas se esquivou por reflexo. Como raios ele conseguiu entrar?
— Como...? — tentou dizer alguma coisa, mas as palavras não saiam. Os olhos verdes a observando — como se fosse normal invadir o quarto de alguém e esperar até a pessoa chegar — estavam ainda mais ameaçadores e agressivos.
— Eu tenho a chave mestra — disse, levantando uma única chave — encarregado da faxina, sabe como é...
Assentiu, erguendo uma sobrancelha. Pretendia dizer alguma coisa, mas foi interrompida.
— Sou Adam — estendeu a mão. Amy apertou-a, com uma pontada de receio de que ele possa fazer alguma coisa com ela — poderia... destrancar a porta? Preciso sair.
— Certo — murmurou e foi em passos rápidos até a porta, destrancando-a com dificuldade, devido às mãos trêmulas. Havia desfeito a primeira volta quando os braços fortes de Adam passaram por seu pescoço em um golpe perfeito, a deixando asfixiada.
— Não chame a polícia, não grite e, principalmente, não fuja. Não queremos que ninguém faça nada com você não é? — disse em seu ouvido.
A menina estava quase perdendo os sentidos quando ele a soltou. Respirou fundo e estava pronta para fugir, ignorando totalmente as tais ‘instruções’, quando forças aplicadas atrás dela fizeram-na cair de joelho. Sua cabeça estava latejando na parte de trás. Deslizou suas mãos com cuidado no local e pôde sentir o sangue quente sujar a ponta de seus dedos.
Enfim, depois de meros segundos a visão de Amy foi ficando escura gradativamente e a menina foi perdendo os sentidos, em seguida caindo para trás, mas seus braços foram segurados. Seu corpo inconsciente foi arrastado pelo corredor, deixando gotículas de sangue como vestígio no carpete azul marinho.
 (...)
Amy foi recobrando a consciência aos poucos, primeiramente ouvindo meros sussurros e frases sem coerência alguma. Logo, mesmo que usando tamanho esforço, conseguiu abrir os olhos. Sua visão, até então turva, custou a se estabilizar e quando aconteceu, pontinhos pretos dançavam perante seus olhos. Estava em uma sala espaçosa, iluminada apenas pela luz falha vinda de uma lâmpada, pendendo do teto acima de sua cabeça.
Sua cabeça ainda tinha um latejar horrível. Tentou levar as mãos até o rosto, mas o pânico tomou conta de seu consciente aos poucos ao perceber que suas mãos estavam amarradas, não só elas como os pés e a boca amordaçada.
Com muito esforço, olhou as paredes, e percebeu que havia quadros de rostos de pessoas. Elas estavam do mesmo jeito que Amy estava agora: aterrorizadas. Esses rostos eram familiares, eles haviam aparecido na televisão. Todos foram assassinados.
Sua respiração começou a ficar ofegante, e suas mãos se mexiam freneticamente, na tentativa falha de se soltarem. À sua frente, havia uma gigante mesa de mogno, assim como na delegacia e, atrás dela, uma cadeira giratória, cuja ‘face’ estava virada na parede. Amy só pôde ver as grandes mãos para fora dela, uma estava segurando um charuto. A sala estava em silêncio, a não ser pelo piscar da lâmpada e das tragadas no charuto.
Ela tentou balbuciar algo como ‘socorro’, mas a fita isolante a impedia. Enfim, a cadeira giratória se virou, revelando: Pietro, o suposto assistente da Pensão Saint Lucy. Estava trajando um terno e um chapéu. Típico visual de mestres do crime. Assim que a viu, acordada e ofegante, deixou escapar um sorriso vitorioso.
— Enfim você acordou — disse com uma voz calma e despreocupada. Levantou-se da cadeira e se aproximou de Amy, tirando a fita de sua boca em um movimento rápido e doloroso.
— Onde eu estou? — murmurou.
— Você não precisa saber — gargalhou — afinal, ninguém revela o endereço do próprio cativeiro, certo?
— O que você quer comigo... — sentiu seus olhos ficarem marejados. Ela não queria se mostrar fraca, mas qualquer um em sua situação reagiria assim.
— Eu só quero te ajudar. O que eu tenho a oferecer vai ser melhor para todos.
O silencio de Amy incentivou Pietro a continuar o que estava falando.
— Olhar triste e caído. Eu sei quem você é — fez uma pausa — Amélia Clarke, a órfã — se referiu a ela com sarcasmo — qualquer um que te olha na rua sabe que você anseia por vingança.
Ponderou por um momento. Por mais que não quisesse admitir, era verdade. O homem soltou uma risada, em seguida dando mais uma tragada no cigarro, dessa vez soltando a fumaça diretamente no rosto de Amy, o que fez seus olhos arderem e as lágrimas que estavam lá rolarem. Isso a fez ficar com ainda mais raiva.
— Sim, eu quero vingança.
Ele sorriu, murmurando um eu sabia em seguida.
— Certo, eu posso lhe ajudar.
As lágrimas em seus olhos secaram instantaneamente, e seu medo foi tomado por um misto de raiva e ansiedade. Finalmente estava prestes a conseguir o que procurou por anos: a vingança pela morte de sua família.
— O que eu tenho que fazer?
— Prove que você merece — colocou o charuto entre os dentes e foi atrás dela, desamarrando seus pulsos e suas pernas. Amy esfregou-os e, em seguida, ficou de pé. Pietro lhe entregou uma faca. A menina passou os dedos por toda a extensão da lâmina, se sentindo maravilhada — pode ser sua, se você conseguir.
— Certo — disse — mostre-me o que eu tenho que fazer.
Ele apenas estalou os dedos, e a porta do armário, que até agora estava emersa na escuridão, se abriu. De lá um corpo se ajoelhou. Era uma mulher — bom, uma menina. Aparentava ter a mesma idade de Amy e, bom, uma prostituta. Seus cabelos dourados e sujos estavam bagunçados e alguns fios grudados em sua testa. Lágrimas escorriam por seu rosto e seus olhos ansiavam liberdade. Seus braços possuíam hematomas arroxeados.
— É simples. Mate ela — deu um sorriso nada amigável.
Por um momento o coração de Amy pareceu ter parado. Matar pessoas inocentes era outra história.
— Vamos — incentivou Pietro — eu não tenho todo o tempo do mundo e, aliás, ela já sabe que vai morrer.
Amy fechou os olhos e pensou sobre a situação. Toda a vingança tem um preço afinal, dependendo da sua crueldade. Já sua vingança custava uma vida. Sua indecisão a estava deixando agonizada, e o homem já batia o pé, impaciente. Com medo de que ele desista da proposta, — pelo visto tão tentadora — Amy andou em passos lentos até a menina, que se agitava cada vez mais.
De uma vez por todas, ela lentamente deslizou a faca por seu pescoço, observando o corte se aprofundar e o sangue sair em abundância. Agora, as lágrimas eram da parte dela. Virou-se para Pietro, que sorriu com desdém.
— É isso? — disse, tentando conter as lágrimas, em vão.
— É claro que não, Amélia. Uma vingança custa caro, como você acabou de ver, e quem vai pagar tudo sou eu. Você me deve alguns favores.



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